Sabiamente ensina-nos o livro do Eclesiastes: “há um momento
para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer, e
tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher. Tempo de chorar, e tempo
de rir” (Ecl 3, 1-4).
Há poucos dias, com o término do Carnaval, iniciamos um novo
período que, na liturgia cristã, é denominado, “tempo da quaresma”, não difícil
de ser identificado, pois há sinais penitenciais bem concretos que o definem: cinzas,
lembram nossa fragilidade humana, somos pó; cor roxa, na liturgia ela nos leva
naturalmente a uma introspecção e reflexão pessoal; o canto litúrgico se priva
de entoar glória e aleluia, depois da terça-feira festiva, há indicação de
jejum e abstinência de carne.
Pois bem, como há tempo para tudo, convido agora, o leitor, a
fazermos uma viagem no tempo das palavras: “carnaval”, “cinzas” e “quaresma”.
Carnaval, segundo o letrado Deonísio da Silva,
veio do italiano “carnevale”, alteração do latim clássico carnem levare, saudar a carne. A origem remota do Carnaval é
religiosa: foram festas pagãs aos deuses romanos. O cristianismo assimilou
muitos ritos, adaptando-os a ponto de hoje, os desfiles carnavalescos mais
refinados, como é o do Rio de Janeiro, lembrarem procissões católicas. Os
carros alegóricos substituem o andor e os enredos misturam elementos
religiosos, fazendo aparecer o sincretismo religioso. O primeiro Carnaval do
mundo bem pode ter sido a celebração de uma boa colheita ou caçada, com cantos
e danças.
O dia que segue à terça-feira “gorda”, passou a ser acompanhado da expressão “de cinzas”, porque nessa quarta-feira a
liturgia retomou um sinal de penitência bíblico: as cinzas de ramos de oliveira
e lembrava em latim: “memento, homo, quia
pulvis es et in pulverem reverteris” (lembra-te, homem, que és pó e ao pó
voltarás) Gn 3,19. Nesse dia começa a quaresma.
Quaresma, do latim quadragésima, significa o
período de 40 dias. O número 40 é significativo nos relatos bíblicos: lembra os
40 dias do dilúvio, no tempo de Noé, os 40 anos no deserto do Povo de Israel,
desde a Páscoa do Judeus (passagem da escravidão no Egito rumo à terra
prometida), 40 dias em que Jesus se retira e jejua no deserto, antes de iniciar
sua vida pública.
Estamos dentro deste tempo quaresmal, cujo rito de iniciação
com a marca das cinzas em nossas frontes, nos convida com as próprias palavras
de Jesus: “convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Além de ser um tempo
de conversão é um tempo para intensificarmos três práticas fundamentalmente
humanas e cristãs: oração, jejum e caridade. Portanto, agora é tempo que,
serenamente, podemos nos encontrar mais intimamente com Deus e sermos mais
solidários com o próximo. Assim chegaremos ao Tempo Pascal com verdadeiros
sinais de vida nova, de ressurreição.
Pe. Ricardo Fontana - Pároco