domingo, 18 de março de 2012

Mensagem do pároco - QUARESMA




Sabiamente ensina-nos o livro do Eclesiastes: “há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher. Tempo de chorar, e tempo de rir” (Ecl 3, 1-4).
Há poucos dias, com o término do Carnaval, iniciamos um novo período que, na liturgia cristã, é denominado, “tempo da quaresma”, não difícil de ser identificado, pois há sinais penitenciais bem concretos que o definem: cinzas, lembram nossa fragilidade humana, somos pó; cor roxa, na liturgia ela nos leva naturalmente a uma introspecção e reflexão pessoal; o canto litúrgico se priva de entoar glória e aleluia, depois da terça-feira festiva, há indicação de jejum e abstinência de carne.
Pois bem, como há tempo para tudo, convido agora, o leitor, a fazermos uma viagem no tempo das palavras: “carnaval”, “cinzas” e “quaresma”.
Carnaval, segundo o letrado Deonísio da Silva, veio do italiano “carnevale”, alteração do latim clássico carnem levare, saudar a carne. A origem remota do Carnaval é religiosa: foram festas pagãs aos deuses romanos. O cristianismo assimilou muitos ritos, adaptando-os a ponto de hoje, os desfiles carnavalescos mais refinados, como é o do Rio de Janeiro, lembrarem procissões católicas. Os carros alegóricos substituem o andor e os enredos misturam elementos religiosos, fazendo aparecer o sincretismo religioso. O primeiro Carnaval do mundo bem pode ter sido a celebração de uma boa colheita ou caçada, com cantos e danças.
O dia que segue à terça-feira “gorda”,  passou a ser acompanhado da expressão “de cinzas”, porque nessa quarta-feira a liturgia retomou um sinal de penitência bíblico: as cinzas de ramos de oliveira e lembrava em latim: “memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris” (lembra-te, homem, que és pó e ao pó voltarás) Gn 3,19. Nesse dia começa a quaresma.
Quaresma, do latim quadragésima, significa o período de 40 dias. O número 40 é significativo nos relatos bíblicos: lembra os 40 dias do dilúvio, no tempo de Noé, os 40 anos no deserto do Povo de Israel, desde a Páscoa do Judeus (passagem da escravidão no Egito rumo à terra prometida), 40 dias em que Jesus se retira e jejua no deserto, antes de iniciar sua vida pública.
Estamos dentro deste tempo quaresmal, cujo rito de iniciação com a marca das cinzas em nossas frontes, nos convida com as próprias palavras de Jesus: “convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Além de ser um tempo de conversão é um tempo para intensificarmos três práticas fundamentalmente humanas e cristãs: oração, jejum e caridade. Portanto, agora é tempo que, serenamente, podemos nos encontrar mais intimamente com Deus e sermos mais solidários com o próximo. Assim chegaremos ao Tempo Pascal com verdadeiros sinais de vida nova, de ressurreição.

Pe. Ricardo Fontana - Pároco