Em cinquenta dias muita coisa pode mudar. Cinquenta dias atrás celebrávamos a Páscoa. Hoje celebramos Pentecostes. Dizemos que em pentecostes celebramos a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos reunidos no Cenáculo, mas este foi apenas um fato. O mais correto é celebrar o derramamento do Espírito Santo que não se deu apenas cinquenta dias depois da Páscoa, mas que se inicia desde a Criação. Convido para percorrermos algumas passagens da Escritura para que compreendamos melhor o que celebramos hoje.
Na primeira página da Escritura diz que o Espírito de Deus pairava sobre as águas, desde o início o Espírito está presente. Este pairar significa cuidar para que a vida seja gerada. Este pairar significa chocar. O Espírito choca o mundo, cuida para que a vida seja gerada. Quando Deus modela o homem do barro, ele sopra nas narinas um hálito de vida e o homem passou a existir. Guardemos estas imagens. Chocar e soprar. Em Babel, o ser humano quer chegar aos céus construindo uma grande torre, quer chegar a Deus por suas próprias forças. Deus envia o seu Espírito e confunde. Várias línguas, ninguém se entende.
O Espírito Santo no Antigo Testamento era um dom dado a poucas pessoas: aos reis, aos profetas e aos sacerdotes. No entanto, Deus promete pelo profeta Joel que derramará o seu Espírito sobre todos. E todos que invocarem o nome do Senhor serão salvos. Chega o momento de Deus enviar o seu Filho para salvar a humanidade, reconciliar a humanidade consigo. Deus escolhe uma menina de Nazaré, Maria. O anjo Gabriel anuncia: O Espírito virá sobre ti. O mesmo Espírito que gerou a vida do mundo, gerará em Maria o corpo do Filho de Deus. Quando Jesus é batizado no Jordão, o Espírito desce sobre ele em forma de pomba. O Espírito Santo o envia ao deserto para ser tentado pelo diabo em sua missão. Na sinagoga de sua terra, Nazaré, Jesus vai dizer: hoje se cumpriu a Escritura, o Espírito do Senhor está sobre mim. O acompanha em toda sua vida pública. No alto da cruz João diz: deu um forte grito e entregou o seu Espírito. É o Espírito que ressuscita Jesus, lhe dá a nova vida. Chegamos enfim ao evangelho de hoje. Na noite do dia da ressurreição O Ressuscitado aparece aos discípulos amedrontados, lhes deseja a paz, sopra sobre eles e diz: recebei o Espírito Santo. Recria, dá nova vida. Arranca deles o medo. Cinquenta dias depois, no Cenáculo recebem novamente o Espírito Santo. Dois relatos diferentes, cada um com sua teologia, João e Lucas. E depois daquele dia uma grande mudança acontece na vida dos discípulos. Eles se transformam em outras pessoas, são recriados. Tanto que Pedro cheio do Espírito Santo toma a palavra e faz um sermão que converte 3 mil pessoas.
Tudo isso nos diz duas coisas sobre o Espírito Santo. Ele gera a vida, recria, ele capacita para a missão de confessar Jesus ao mundo, como recordava São Paulo na segunda leitura. O que rezamos no Creio sobre o Espírito Santo? Creio no Espírito Santo Senhor que dá a vida. É dom, não é direito ou propriedade de uns poucos. Pentecostes é o contrário de Babel exatamente por isso. Não é o ser humano que por suas forças chega a Deus, Deus dá gratuitamente, é dom, é graça. Ele foi derramado sobre todos, não mais sobre os profetas, rei e sacerdotes. O que o Espírito Santo precisa recriar, gerar em ti? O que em ti está morto? O que em ti está sem vida? Peça o Espírito Santo. O que te falta para confessar Jesus sem medo? Sem vergonha?
No final da missa, o diácono Miguel Mosena falou sobre sua ordenação sacerdotal, que deveria ter ocorrido hoje, mas em virtude da pandemia foi transferida para o próximo dia 26 de julho. Para todos acompanharem em suas casas, haverá transmissão pelo facebook e youtube da Diocese de Caxias do Sul. Ao finalizar foi cantado os parabéns ao Miguel por estar de aniversário no dia de hoje. A paróquia Nossa Senhora das Graças parabeniza o aniversariante e roga a Deus e Maria suas bênçãos e graças.
