quinta-feira, 26 de março de 2020

NA PESTE, HÁ ESPERANÇA


 
          Estamos vivenciando uma situação social de guerra contra o Coronavírus, que produz a doença conhecido pelo termo cientifico COVID-19. O mundo está em alerta, cidades em quarentena. Os meios de comunicação nos apresentam milhares e centenas de pessoas dizimadas pela peste.  O contágio se alastra globalmente e rapidamente. As estatísticas atuais registram a contaminação de mais de 150.000 pessoas. Tudo isso causa um forte impacto social, econômico, político, cultural e religioso. Até hoje na Itália, somam 3 mil mortos e na China, onde tudo iniciou, também mais de 3 mil óbitos. O mundo está perplexo.
        Albert Camus (1913–1960), escritor argelino, Prêmio Nobel de Literatura (1957), escreveu o romance A Peste, (1947). A obra descreve um contágio da população, proveniente de ratos, que surgem do subterrâneo, dizimando pessoas, diferente do Coronavírus.
Hoje, na França, é o livro mais vendido e apreciado pelos leitores devido a forma que o autor descreve, com tamanha originalidade e veracidade as causas e consequências da epidemia. As reações vindas da população são as mais adversas, desde ação ou passividade; responsabilidade ou descompromisso; compaixão ou indiferença, etc.
       Camus descobre a primazia do coletivo. “Somente a ação coletiva do homem pode conter todo mal”. Penso que viver é esperar, acreditar, porém devemos sempre fazer todos os esforços possíveis, coletivamente e não somente numa maneira solipsista, a fim de que o esperado se concretize. Ora, a esperança é um processo de construção comunitária.
Hoje nos questionamos: afinal, qual a gênese da epidemia?  Como cultivamos os valores éticos e morais? Políticos e metafísicos? Quais as reações que tomamos frente a pandemia: de solidariedade e de compaixão, ou, salve-se quem puder?
         Toda obra camusiana nos faz refletir para tomarmos consciência sobre a necessidade da responsabilidade social, para que lutemos com dignidade, evitando qualquer forma de violência. O Papa Francisco nos fala da importância de cuidar da casa, a casa comum, o planeta terra: “Família, um tesouro a ser protegido e defendido”.
          Talvez não precisássemos dos decretos para tomarmos consciência de valorizar mais a família que temos!  Como se dá a relação entre pais e filhos?  Como eu dedico o meu tempo especial à família amorosa e fraterna? 
         Certo dia, li em um artigo, não lembro o autor, em que o cientista afirmara que a terceira guerra mundial não será com armas, mas sim realizada com moléculas. Nos faz refletir sobre este cenário no qual vivenciamos. Esta era tecnicista, em que o Capital é exageradamente valorizado, ocasiona, a meu ver, certa dessubstancialização do ser humano. Talvez fomentando atitudes e ações violentas.
         Ora, a esperança é um processo de construção diária. No campo teológico, a esperança é uma das três virtudes teologais, juntamente com a fé e a caridade. No dizer de São Paulo: “Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade”. (1 Cor 13:13). Caridade traduzida como amor-compromisso no cuidado com a vida e com a vida do próximo.  Portanto, somos convidados para refletir carinhosamente sobre a nossa missão humana.
    Camus, com a peste em seu livro, dá aos que a ela sobrevivem a esperança de recomeçarem. Onde há esperança há possibilidades. Sempre haverá tempo para reconstruir a esperança, apesar dos mortos queridos. O que se aprende no meio dos flagelos, refere Camus: “que há na humanidade mais coisas a admirar que coisas a desprezar”. A meu ver, é preciso despertar a esperança que há em cada um de nós para nos tornarmos mais humanos.
Pe. Roberto C. Favero