Estamos vivenciando uma situação social de guerra contra
o Coronavírus, que produz a doença conhecido pelo termo cientifico COVID-19. O
mundo está em alerta, cidades em quarentena. Os meios de comunicação nos
apresentam milhares e centenas de pessoas dizimadas pela peste. O contágio se alastra globalmente e
rapidamente. As estatísticas atuais registram a contaminação de mais de 150.000
pessoas. Tudo isso causa um forte impacto social, econômico, político, cultural
e religioso. Até hoje na Itália, somam 3 mil mortos e na China, onde tudo
iniciou, também mais de 3 mil óbitos. O mundo está perplexo.
Albert Camus (1913–1960), escritor argelino, Prêmio Nobel
de Literatura (1957), escreveu o romance A Peste, (1947). A obra descreve um
contágio da população, proveniente de ratos, que surgem do subterrâneo,
dizimando pessoas, diferente do Coronavírus.
Hoje, na França, é o livro
mais vendido e apreciado pelos leitores devido a forma que o autor descreve,
com tamanha originalidade e veracidade as causas e consequências da epidemia.
As reações vindas da população são as mais adversas, desde ação ou passividade;
responsabilidade ou descompromisso; compaixão ou indiferença, etc.
Camus descobre a primazia do coletivo. “Somente a ação
coletiva do homem pode conter todo mal”. Penso que viver é esperar, acreditar,
porém devemos sempre fazer todos os esforços possíveis, coletivamente e não
somente numa maneira solipsista, a fim de que o esperado se concretize. Ora, a
esperança é um processo de construção comunitária.
Hoje nos questionamos:
afinal, qual a gênese da epidemia? Como
cultivamos os valores éticos e morais? Políticos e metafísicos? Quais as
reações que tomamos frente a pandemia: de solidariedade e de compaixão, ou,
salve-se quem puder?
Toda obra camusiana nos faz refletir para tomarmos
consciência sobre a necessidade da responsabilidade social, para que lutemos
com dignidade, evitando qualquer forma de violência. O Papa Francisco nos fala
da importância de cuidar da casa, a casa comum, o planeta terra: “Família, um tesouro
a ser protegido e defendido”.
Talvez não precisássemos dos decretos para tomarmos
consciência de valorizar mais a família que temos! Como se dá a relação entre pais e
filhos? Como eu dedico o meu tempo especial
à família amorosa e fraterna?
Certo dia, li em um artigo, não lembro o autor, em que o
cientista afirmara que a terceira guerra mundial não será com armas, mas sim
realizada com moléculas. Nos faz refletir sobre este cenário no qual
vivenciamos. Esta era tecnicista, em que o Capital é exageradamente valorizado,
ocasiona, a meu ver, certa dessubstancialização do ser humano. Talvez
fomentando atitudes e ações violentas.
Ora, a esperança é um processo de construção diária. No
campo teológico, a esperança é uma das três virtudes teologais, juntamente com
a fé e a caridade. No dizer de São Paulo: “Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade”. (1 Cor
13:13). Caridade traduzida como amor-compromisso no cuidado com a vida e com a
vida do próximo. Portanto, somos
convidados para refletir carinhosamente sobre a nossa missão humana.
Camus, com a peste em seu livro, dá aos que a ela
sobrevivem a esperança de recomeçarem. Onde há esperança há possibilidades.
Sempre haverá tempo para reconstruir a esperança, apesar dos mortos queridos. O
que se aprende no meio dos flagelos, refere Camus: “que há na humanidade mais
coisas a admirar que coisas a desprezar”. A meu ver, é preciso despertar a
esperança que há em cada um de nós para nos tornarmos mais humanos.
Pe. Roberto C. Favero