Estimados irmãos e irmãs em
Cristo Jesus! No ciclo da vida, que para alguns pode durar uma centena de anos
ou mais, e para outros pode ter a brevidade de uma flor rara, que não dura mais
do que algumas horas, alguns dias, alguns meses ou alguns anos, não importa a
brevidade do tempo, ninguém parte deste mundo sem deixar marcas no coração de
alguém que ama.
No dia 02 de novembro
celebraremos o dia dos finados e todos nós temos alguém para recordar. Neste dia
de silêncio e oração, onde reavivamos na memória as lembranças de pessoas que
fizeram parte da nossa vida. São familiares, amigos e conhecidos que marcaram a
nossa vida e viveram a experiência da morte, mas os recordamos na mente e com
afeto no coração.
Quando uma pessoa vive o seu
caminho existencial, com todas as provações que fazem parte da vida do ser
humano, e nós estamos profundamente ligados a ela, por laços afetivos de
parentesco ou por amizade, choramos e lamentamos a sua partida. Porém, nos consolamos
ou aceitamos quando entendemos que ela completou o seu peregrinar neste mundo,
para viver a vida eterna e receber o abraço da ternura e da misericórdia do
Pai, no dia da ressurreição.
A vida e a morte nos provam. Nos
provam, e, às vezes, temos o coração ferido porque a vida nos aproxima e a
morte nos separa. Perder uma pessoa que amamos, que faz parte da nossa vida,
dos nossos sonhos, dos projetos que construímos juntos é uma dor que atinge
milhões de pessoas. Num dia de finados, estando num grande cemitério, enquanto
aguardava a hora da celebração eucarística, comecei a percorrer o local e fui
observando os túmulos e os nomes escritos nas lápides. Alguns construídos de
forma sóbria, outros artisticamente trabalhados, outros em estado de abandono,
simbolizando como que uma ruptura entre passado e presente, na ligação afetiva
familiar. No silêncio e naquele estado de abandono, eles nos falam: já não sou
recordado, saí do mundo e do coração dos meus familiares.
Mas também pude perceber no
semblante das pessoas que estavam junto à cruz, ascendendo velas, um olhar
distante perdido no silêncio, mas naquele silêncio traziam presente o passado,
a alegria da vida e a dor da separação pela morte de seus entes queridos. Ao
redor de alguns túmulos, estavam agrupadas várias pessoas, em outros não tinha
ninguém, mas tinha também aqueles que estavam recebendo a visita de uma única
pessoa. Esta, às vezes estava sentada junto ao túmulo. Ali não se via risos,
abraços e reencontros, mas percebia-se um reencontro marcado pelo silêncio,
cujo olhar ia além do presente, fazia ponte de comunhão com alguém do passado,
mas que no amor permanecia presente no coração.
+ Dom José Gislon, OFMCap.
Bispo Diocesano de Caxias do Sul