“A criação abriga a esperança”. Rm.8,20
Estamos vivenciando um tempo difícil, de muitos desafios devido a pandemia. Como Cristãos, temos o dever de dar respostas convincentes, razões de nossa fé. Através de nossos bons exemplos e de nossa criatividade, Deus sempre nos proporciona esta atitude de re-fazermos e de redescobrir-nos a graça que está dentro de cada ser humano. O dom da Esperança. Desde o começo da criação, Deus nos deu esta brilhante vocação. Precisamos cuidar da vida, pois sem ela não há esperança, e sem esperança não haverá vida. Sendo assim, somos convidados pela história atual a intensificar, aprimorar e voltar inteiramente ao nosso primeiro amor: o nosso Bom Deus.
Em outras palavras, precisamos voltar a fonte
onde a vida se faz e se refaz constantemente, constituindo assim uma
Espiritualidade renovada e fortalecida, que nos possibilita a enfrentar os
reveses da vida. Jesus é a fonte desta água viva. Lembrando uma passagem
bíblica, em que narra a história de
uma mulher da Samaria, conhecida pelo encontro que teve com Jesus, próximo a um
poço. "Porém aquele que beber da água que eu lhe der nunca mais
terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será Nele uma fonte, a jorrar
para a vida eterna".Jo
4:14. Sentir
e saborear a presença amorosa do encontro definitivo com Jesus é fundamental. Cada
pessoa deve fazer esta experiência de colocar-se na presença de Jesus, e neste
diálogo expressar seus sentimentos com humildade e pequenez: “dai-me de beber”!
(Re) abastecidos, confiantes e corajosos faremos toda e qualquer travessia.
Creio que este tempo em que estamos
vivenciando, é oportuno para experimentar, para viver, para amadurecer a fé.
Ouvir e escutar mais a voz do coração, é preciso exercitar. Viver a fundo uma
espiritualidade Cristã. Ter presente que o sinônimo de espiritualidade é a
interioridade. Se formos estudar na linha do tempo da tradição da Igreja, nos
apresenta a espiritualidade como esta interiorização. Citamos Santo Agostinho,
na sua experiência profunda de Deus, ele dizia: “Não sai para fora de ti,
retorna a ti mesmo. Porque a verdade habita no interior”. Para ele, rezar é
entrar dentro de nós. Porque é dentro de nós que Deus habita. O nosso “santuário interior”.
Para São João da Cruz, espiritualidade seria
“o esvaziarmos da vida, e começarmos uma realidade nova dentro de nós”. Para
São João Crisóstomo, “a oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável,
porque nos põe em comunhão intima com Deus”.
Na sagrada escritura, os evangelistas nos apresentam frequentemente Jesus rezando solitariamente no silêncio da noite, no auto das montanhas, no deserto, longe das pessoas, nas margens do mar, enfim. ELE também tinha esta necessidade de manter este contínuo diálogo com Deus. Há um autor chamado Cardeal José Tolentino Mendonça, que diz: “Quer sentir a espiritualidade, fecha as portas dos teus sentidos e procura Deus no teu profundo”.
Realmente a vida interior é uma vida
profunda, tensa, complexa, também rica. Penso que a vida exterior é uma vida
epidérmica superficial. Às vezes é uma vida fútil, vida vazia e muitas vezes
sem sentido. Observamos globalmente muitas relações desumanas. Precisamos
cultivar a Fé, pois, o cerne da fé é escutar a palavra, a voz de Deus, para
depois realizá-la em nossa vida. Este binômio conhecido por todos nós, fé e
vida, são inseparáveis. Santo Inácio de Loyola nos deixou esta frase lapidar:
“Em tudo amar e servir”. Por que Deus é o amor. 1Jo.4,8
O próprio Jesus nos deu o mandamento bíblico
de amar o próximo, acrescentando o novo mandamento: “Amai-vos uns aos outros
como eu vos amo”. Ele é o “verbo que se
fez carne”, exemplo a seguir. ELE possui a fisionomia humana. O evangelho é a concretude
humana. Com a prática de Jesus aprendemos a amar e somos amados. Salientando
que o amor desperta a esperança. O documento de Puebla ratifica que a autêntica
proposta de encontro com Cristo se estabelece no fundamento “Trindade-Amor”.
Afinal, todo ser humano foi criado com esta capacidade de criar, de aprimorar e
de viver relações de fraternidade e de solidariedade. Somos uma só família.
Recorrendo à filosofia e à teologia, ambas
nos ajudam a pensar, nos apresentam uma antropologia humanística integrada. Não
há separação entre corpo e alma, entre o mundo interior e o mundo exterior. É
no nosso corpo que a espiritualidade se manifesta. Assim construímos a
espiritualidade na realidade do nosso tempo presente. A vida se faz neste
processo de construção, é o grande laboratório de nossa fé.
É notório que, para desenvolver-se, o ser
humano precisa tanto da interioridade como da exterioridade, tanto de meditação
quanto na ação, tanto de conhecer a si mesmo como de ir ao encontro dos outros.
Foi expresso pelo filósofo Henri Bergson: “O corpo aumentado espera um
suplemento de alma e a mecânica exigiria uma mística”.
Segundo o Teólogo José Antônio Pagola, em sua obra “JESUS Aproximação Histórica (p. 566): “A primeira coisa e a mais decisiva é esta: pôr Jesus no centro do cristianismo. Ele é o melhor que temos na Igreja. O melhor que podemos oferecer e comunicar ao mundo de hoje”. Devemos ter presente de fato que a ressurreição de Jesus é para nós a razão última e a força diária de nossa esperança.
Podemos concluir que a Mística da Esperança
é um grande potencial humano, isto é, um “dom de Deus”, que precisa ser
alimentada na oração para iluminar nosso agir. Reencantando o mundo nas
possibilidades e nos desafios. Intensificando e apoiando-se nos gestos de amor-caridade,
amor-fraternidade ao nosso próximo. Sendo, pois, como um valor-farol de nossa
missão.
Segundo o Papa Francisco, nos tempos atuais, devemos motivar-nos a “primeirizar” o amor como vida, como conduta e como missão nesta terra. A cada dia de nossas vidas, devemos acolher a súplica do Apostolo Paulo: “a deixarmo-nos reconciliar com Deus”.2Cor 5,20. Permitir-se ouvir: “Vinde Benditos de meu Pai”. Mt.25,34.
Pe. Roberto C. Favero
Carlos Barbosa, 28 de
agosto de 2020
Festa de Santo
Agostinho