Dirigida
às autoridades, sacerdotes e anciãos do povo, a parábola do Evangelho de hoje
revela quem aceita Jesus e quem o rejeita. Os dois filhos agem de forma
diferente daquilo que responderam ao pai: um respondeu “não”, mas depois foi; o
outro respondeu “sim”, mas depois não foi. Pergunta desafiadora do Mestre: qual
fez a vontade do pai? Resposta das autoridades: aquele que agiu conforme o pai
havia pedido.
Religião
não é feita só de palavras, mas sobretudo de ação, de vivência, de prática. O
papa Francisco adverte sobre “cristãos papagaios”, que só falam em religião,
mas não a vivem. Não basta dizer “Senhor, Senhor”, mas é preciso cumprir a
vontade do Pai para entrar no Reino. Uma religião que se limite ao cumprimento
de rituais e não trilhe o caminho da justiça não leva ao seguimento de Jesus.
Diante dessa parábola, poderíamos perguntar: para que serve a religião?
Tradicionalmente,
afirma-se que religião quer dizer “religar-se com a divindade”. Essa definição,
porém, pode dar a ideia de que ela não deveria se preocupar com o que ocorre no
mundo. O Vaticano 2º procurou abrir a Igreja para o mundo e não deixá-la
fechada em si mesma. O papa insiste muito nisso. Algumas “frestas nas janelas
da instituição se abriram para os ventos do Espírito”, trazendo a Boa-nova do
Evangelho. No entanto, não faltam os que tentam fechar essas frestas,
considerando-as nocivas.
Na
era das imagens, em muitos ambientes há o sério risco de a religiosidade
católica se reduzir ao estético: batinas, roupas clericais medievais,
correntes, véus… Nada disso parece ajudar a viver o Evangelho da justiça e da
transformação. Empenhar-se pelo direito dos pobres, em sintonia com as
bem-aventuranças, em alguns círculos soa quase uma ironia.
Jesus
diz que “os cobradores de impostos e as prostitutas”, abrindo-se à misericórdia
de Deus, precederão, no Reino, aos que vivem de forma farisaica. A parábola de
hoje quer nos levar a refletir sobre nossa maneira de viver a religião e a visão
que temos do Reino de Deus. Os dois filhos podem representar cada um de nós,
que alternamos momentos de compromisso com o projeto de Jesus com momentos de
fraqueza, indiferença e até crítica à proposta do Mestre.
Pe. Nilo Luza, ssp
FONTE: https://www.paulus.com.br/portal/o-domingo/a-verdadeira-religiao - Acesso em 27/09/20