O ENTARDECER DA VIDA
No entardecer da vida, seremos julgados pelo amor.
Assim São João da Cruz, místico espanhol do século 17, sentenciou sobre o fim
de nossos dias. Tratar da morte geralmente é muito difícil, porque as pessoas a
pensam fora da vida. Morrer faz parte do viver. Gastar tempo, consumir energia,
renunciar algo, perder: tudo revela diariamente que a vida é como uma vela que
se consome para produzir luz. Não duramos eternamente na Terra. Na vida, há
também cansaço e busca de repouso.
Depois de uma jornada de trabalho, é preciso
descansar. Passado o domingo ensolarado, segue o pôr-do-sol. E quanta beleza há
num final de tarde!
Preparar-se para o entardecer da vida não é olhar
para a noite da morte, mas perceber que o sol continua a brilhar na vida eterna,
onde é sempre dia. Se pensássemos apenas no morrer, colocaríamos o sentido de
tudo somente no final da existência. Muitas pessoas tenderam para essa posição
e acabaram perdendo o sabor dos dias na Terra. A tentação maior, contudo, é
pensar somente no agora, no material, na vida saudável, jovem e bela. Isso é
provisório demais e pode gerar um desespero quando os limites começam a
aparecer.
A consciência reprimida da morte mata-nos já em
vida, e tornamo-nos apáticos em relação aos outros e a nós mesmos. A morte deve
fazer parte da estrutura do ser, porquanto não se pode viver sem morrer. Cada
processo vital contém em si também um processo mortal.
Tratar da morte sem abordar a vida resulta numa
incompletude que revela a falta de algo fundamental, pois a vida e a morte
perfazem um todo e complementam-se. Morremos sempre. Morre o idoso, farto de
dias, mas morre também o jovem, sedento de vida. Para alguns, a morte conclui a
existência; para outros, ela a interrompe. Diz-se até que, ao nascer, o ser
humano já é suficientemente velho para morrer. Diante da morte não há argumento
e nem respostas. Há somente o ato de fé.
Os cristãos definem a morte como passagem da vida
limitada para uma vida plena, em Deus. Ensina o cristianismo que, em Jesus
Cristo, apesar de vivermos na limitação do tempo, já somos eternos, porque
somos filhos de Deus. É por isso que os cristãos já sabem ser ressuscitados, e
a morte não pode lhes separar de Cristo, como proclama Paulo Apóstolo.